A Fúria dos Reis. A Continuação de Guerra dos Tronos é um duelo de deuses.

[ATENÇÃO: Vale sempre lembrar: A Fúria dos Reis é a continuação direta de Guerra dos Tronos, portanto se você ainda não leu o livro ou assistiu a primeira temporada da série, com certeza terá revelações desagradáveis nas próximas linhas. Além diso, alguns acontecimentos da vindoura segunda temporada também serão comentados (mas nenhuma GRANDE surpresa). Continue por sua conta e risco.]

Se existe um adjetivo que nunca servirá para George R. R. Martin e sua obra, Crônicas de Gelo e Fogo, esse é “previsível”. O escritor é dono de um estilo, por não achar palavra melhor, quase televisivo, onde nos carrega por um mundo desconhecido, que anda por estradas sinuosas e sombrias, e quando chega em determinado ponto ele te larga lá. Sozinho. No escuro. Sem saber para onde ir e o que pensar. Tudo o que você julgava seguro e duradouro se mostra frágil. Quem você julgou que te guiaria ao longo daquela jornada é sumariamente abatido em frente a seus impotentes olhos. Sim. Ned Stark é covardemente assassinado na parte final do primeiro livro. E sabe quem era o Senhor de Winterfell? O SEU pai.

Nós, leitores, somos colocados em um papel semelhante ao de Jon Snow na história. Um filho bastardo de Stark, perto o suficiente para chorar a morte da figura paterna, mas separados por uma muralha que nos impede de buscar vingança. Uma muralha muito mais intransponível que a de gelo, pois separa nosso mundo de Westeros. Por mais que tenhamos vontade de pegar em armas para vingar a morte do lobo do norte, nosso dever é continuar aqui, sem fazer nada. Seu irmão, herdeiro de Winterfell, tem que enfrentar a guerra contra inimigos terríveis e sua espada não estará ao seu lado. Suas irmãs serão cativas e você não poderá resgatá-las. Seus irmãos mais novos ficarão desprotegidos e você poderá somente observar.

Stark é a representação clássica do patriarca, que protege, provê e faz justiça, sempre da forma mais leal possível e, por mais que soe cruel, seu senso de moral é aquele que serve de modelo para toda uma vida. Se durante o primeiro livro aprendemos com ele como ser justos e corretos, em A Fúria dos Reis é hora de aprender a andar pelas próprias pernas. O mundo não é o lugar seguro que seus pais criaram para você. É hora de tomar as próprias decisões e travar as próprias guerras.

Deuses, malditos deuses…

Quando chegamos ao final do primeiro livro, com Daenerys Targaryen finalmente “chocando” seus três dragões, somos levados a pensar que agora a magia vai tomar conta dessa história e levá-la a outro patamar. Martin propositalmente nos frustra, pelo menos em um dos aspectos. Os dragões estão lá, mas ainda crias e – apesar de ser o motor do núcleo de Dany – sem maior importância para a história. O que nos surpreende é o crescimento do contexto da guerra em outro sentido: o religioso.

Após a morte de Robert Baratheon, seu filho Joffrey (na verdade fruto do incesto da rainha Cersei com seu irmão Jaime Lanister) é alçado à posição de Rei. Pelas suspeitas de que o herdeiro não seja legítimo, vários outros personagens passam a usar coroas e reclamar para si o trono. Stanis Baratheon, irmão mais velho do falecido monarca, assim como Renly Baratheon, o mais novo, acreditam que o Trono de Ferro seja seu por direito e partem em busca de alianças. Enquanto isso Robb Stark, herdeiro de Winterfell, é aclamado Rei do Norte por seus protegidos e parte em campanha contra a casa Lanister, responsável pela morte de seu pai. Seu melhor amigo Theon Greyjoy trai sua confiança e leva ao seu pai, o insurgente Senhor das Ilhas de Ferro, um plano para tomar o reino. Não bastasse isso, ainda temos Daenerys, que busca no oriente um exército para que possa voltar a Westeros e retomar o trono para sua casa.

Enquanto muitos reis provocam uma disputa de vaidade, o menos vaidoso dos personagens é quem realmente governa. Tyrion Lanister, o Duende, foi nominado Mão do Rei e comanda Porto Real, preparando-se para o pior. Se em Guerra dos Tronos Tyrion já roubava a cena, no segundo livro ele se torna ainda mais profundo, humano e, ao mesmo tempo, manipulador e dissimulado. Se na saga somos como filhos de Eddard Stark, Tyrion é aquele seu melhor amigo considerado por todos “má companhia”.

A nova divisão do reino poderia ser somente política, mas se mostra também religiosa, o que é infinitamente mais perigoso. Se antes apenas conchavos políticos impediam a paz, agora posicionamentos religiosos se interpõe entre os pretendentes ao trono. Os deuses antigos dos Stark, o deus afogado dos Greyjoy, o deus da luz de Stanis Baratheon, e a feitiçaria, em que Dany Targaryen cada vez mais se aprofunda, competem sobre qual tem mais direito de promover derramamento de sangue. Igualzinho a um outro planetinha azul que você conhece bem.

Desde que o homem relata sua história, vemos que a religião é motivo de discórdia e desrespeito entre os povos. Acordos de paz são impedidos enquanto homens tentam provar que suas estátuas e símbolos tem um poder invisível mais forte que o dos outros. Crianças são mortas porque alguém insiste em colocar nomes e rostos em algo tão inerente ao ser humano quanto a fé.  A Fúria dos Reis mostra que todos temos coisas boas e más em nós, indepente se rezamos para uma árvore, para o sol ou para um nome qualquer.  Pensando bem, a muralha que separa Westeros de nosso mundo não é assim tão intransponível.

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  • Evandro

    Pedro, teu livro tá com problema, viu. No meu não tem isso não.

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  • Thiago

    Boa resenha, parabéns!

    Só achei que a religião não foi algo tão relevante como citado, Stannis não atacou Porto Real pela religião e sim pela coroa.

    Além do que os reinos são laicos e os personagens demonstram maior fidelidade por suas casas e não por seus deuses.

    Abraços.

  • pedro

    gente, o meu livro a furia dos reis a partir da pagina 385 começa a repetir capítulos do preimeiro. isso ;e estranho. kk eu queria saber se adcionaram esses capítulos ou eles estão no lugar dos originais. me ajudem?

  • Luis >.

    ueuaueuaeuueuae como eu to feliz com esse post to mais ansioso pela segunda temporada vai ser top (no brasil demora tanto pra chegar o livro que vai sair no mesmo periodo da serie ou seja ano que vem)

  • Vinicius

    Muito boa sua visão no final do texto

  • Preston

    Da mesma forma que é dito que armas não matam pessoas, mas sim pessoas matam pessoas vale para a religião. A religião não mata pessoas, alguns idiotas usam a religião como forma de gerar conflitos políticos e matar pessoas, mas não se pode generalizar. Essa forma de usar textos de assuntos que não tem nada a ver com religião para criar intolerância e fazer propaganda ateísta é ridículo e também mostra como os intolerantes ateístas não estão muito longe dos fanáticos religiosos de outrora. Ateísmo virou religião e já tem até seus fanáticos….

    • Tiago

      As armas matam as pessoas sim, pois elas foram criadas com o intuito de ferir os outros, apesar de muitas pessoas usarem o argumento de que elas servem para proteção. Mas se não existissem armas, muito menos pessoas morreriam. Para a religião, a lógica é a mesma. Se, por um lado, ela foi feita para incutir nas pessoas bons sentimentos, por outro, ela sempre serviu para manipular as pessoas e justificar as injustiças sociais. Dizer isso não é fazer propaganda ateísta. Não está claro se o autor do texto é ateu. Atacar religiões, não torna as pessoas descrentes em forças superiores.Existem pessoas teístas, mas que não aceitam as religiões institucionalizadas. Não vejo nenhum problema no que o autor disse, ele não desrespeita ninguém. E mesmo que ele seja ateu, também não acho problema, pois não há nenhum ataque à crença de ninguém, muito menos propaganda de ateísmo. E mesmo que ele fizesse claramente propaganda ateísta, qual seria o problema? Os cristãos possuem vários sites da internet pregando o cristianismo. Se ele estivesse fazendo proselitismo (e reafirmo que ele não fez), estaria dentro do seu direito e o teria feito de maneira muito bem educada!

      • Douglas

        Aff cara tu e um mongol mesmo hein meu deus
        armas não matam pessoas logico que mata cara e
        que nem uma pessoa inteligente ela pode usar essa inteligencia para o bem ou para o mal assim como as armas.

  • http://www.vitrinepix.com.br/ocultoecomico Wander

    Não li o livro ainda, mas vuo ler…pena que a série é anual…
    e aproveitando quem quiser camisetas baseadas na Guerra dos Tronos é só visitar minha loja: http://www.vitrinepix.com.br/ocultoecomico

    Flw!

  • joka

    cara, acabei de comprar o 3 o 4 e 5 na saraiva, vai chegar dia 2 de agosto, to morrendo aqui. pqp

  • Gianini

    o terceiro sairá em setembro agora. O quarto no primeiro semestre do ano que vem e o quinto no segundo.

  • felipe

    Um dos melhores livros de fantasia que li até hoje,me prendreu do começo ao fim!E a cada página uma nova surpresa,deliciosa leitura.Esse livro é tão bom que até me abriu os olhos pro mundo,não existe essa coisa de bom e mal, e sim cada um tentando garantir o seu.Tem personagens no quais nos indentificamos mais e outros que achamos grandes fdps,mas nenhum é somente bom ou mal.Excelente artigo,mostra muito do que é esse livro!Parabens!

  • Felipe

    Ótimo texto, mas você deu muitos SPOILERS DA SEGUNDA TEMPORADA, bicho.

  • Luis Pereira

    Esse texto foi só para reforçar a intolerância religiosa? Podia ter falado mais do livro e menos do ataque bobo a religião. Nesse mundo já se matou e se fez muitas coisas terríveis, mas nem de longe a religião foi a principal causa. Ainda se valer do livro, que deixa bem clara a idéia de que se mata e tortura por milhões de motivos além da religião, pra fazer essa propaganda ateista engajada, deprimente.
    Quando os ateus vão aprender que tolerância vale pros dois lados? Que eles também devem ser tolerantes com os religiosos se esperam tolerância dos religiosos?

    • ted

      Tá louco é? Só no último parágrafo que se faz analogia a intolerância religiosa. Credo, gente fanática. Vai catar coquinho, quem tá sendo intolerante é você.

    • Jão

      “…Nesse mundo já se matou e se fez muitas coisas terríveis, mas nem de longe a religião foi a principal causa…”

      Cara você tem certeza que você teve no minimo alguma aula de historia?

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Inquisi%C3%A7%C3%A3o_espanhola

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzadas

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Jihad

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Europa#Guerras_santas

      Mostre tolerância você ,não vejo nenhum ataque a religião , só uma constatação obvia.
      Guerras geralmente começam de discordâncias de opiniões , e religião é uma grande fonte de discordâncias.

      • Luis Pereira

        Você que não teve aula de história.
        Somando todas as Guerras Santas, não chega a um terço das mortes cometidas na Primeira e Segunda Guerra Mundial e as mortes cometidas pelas ditaduras comunistas.

        • Daniel

          Mermão entende que ninguem ta julgando vc ter religião e sim porque fatos são fatos, e humanos são tolos ! Principalmente os que seguem coisas sem pensar, aceitando como verdades absolutas.

        • Lup

          Segunda Guerra Mundial? Bom, Judeus foram mortos por?

    • Lup

      Pq tolerância a algo tão primitivo? devemos evoluir, superar o medo da morte, e parar de esperar que alguém desça dos céus e resolva nossos problemas e do mundo e puna aqueles que foram “infiéis” .

      Todos Deuses tem seu fim, foi assim com os antigos e não vai ser diferente com os atuais.

      Fico imaginando como serão os próximos Deuses? se repararmos bem os antigos eram muito mais “interessantes”, a qualidade só tem piorado, ter um Deus pra cada coisa era mais organizado e prático…

  • Gabriel

    Queria era saber quando o 3 e 4 volume chega no Brasil, viu?
    No site da editora nao tem nada a respeito…to quase tomando coragem pra ler em inglês….

    • Bernardo

      Cara, se voce sabe ler ingles compra logo…a série é foda, e no 3o livro o bicho pega, demais. George R.R. Martin é foda

    • Al Jy

      Sobre o quarto não se tem notícias, mas o terceiro vêm em Setembro deste ano.