Em 2009 o diretor sul africano Neill Blomkamp caiu nas graças do grande público com Distrito 9, uma ficção científica de baixo orçamento, mas com sobra de originalidade, que foi indicada ao oscar de melhor filme. Foi o crédito acumulado pelo jovem diretor em seu debut para o grande público que arrecadou nomes de peso para seu novo projeto: Elysium, que estreia nesta sexta-feira 20 de setembro. O elenco estelar é encabeçado por Matt Damon e traz nomes como Jodie Foster, Sharlto Copley, Alice Braga e também conta com a estreia de Wagner Moura no cinema internacional. A confiança no novo projeto de Blomkamp é tamanha que o ator Diego Luna aceitou participar do filme sem sequer ter lido o roteiro.
Sabe aqueles dias em que você acorda e sua casa está tão suja, bagunçada e caótica que você pensa que seria mais fácil se mudar do que começar uma faxina? Foi exatamente isso que a nata da sociedade mundial fez no ano 2145 com o planeta Terra. Os ricos não estão mais separados dos pobres pela geografia de uma cidade, país ou continente. Eles simplesmente partiram do planeta e resolveram criar seu próprio paraíso em uma estação espacial chamada Elysium, com máquinas capazes de curar qualquer doença. A medicina, aliás, surge como elemento principal na construção desse futuro distópico, já que em Elysium cada casa possui uma dessas máquinas curativas, onde basta você se deitar por alguns segundos e seu problema estará resolvido. Já o nosso planeta virou uma grande favela, superpopulosa e decadente. É nesse cenário que conhecemos Max, (Matt Damon) um ex-criminoso que tenta levar uma vida digna mas, devido às circunstâncias, se vê desesperado para chegar em Elysium para salvar sua própria vida. Para isso ele vai precisar da ajuda de Spider (Wagner Moura) um homem com recursos que faz as vezes de “coyote”, ajudando ilegais a entrar na estação orbital. Esse desespero traz para Max o peso necessário para acreditarmos que esse herói poderia ser qualquer um de nós.
Apesar da tecnologia e dos avanços da medicina serem o motor do filme, a narrativa é tão fluída que dispensa maiores explicações sobre como aquela cama “mágica “ funciona. É possível até imaginar um mimado de Elysium reclamando com o suporte técnico de que sua máquina está lenta demais para curar seu câncer. Na terra a medicina também mostra sinais de avanço, pois aparentemente infecções não são mais um problema. Você vai entender melhor o que quero dizer quando der uma olhada na “sala de cirurgia do inferno” onde um dos personagens sofre uma intervenção. A impressão que passa é que você poderia ser operado no chão de um banheiro público e voltar caminhando para casa em alguns minutos, tranquilamente. Essa é a prova de que é muito fácil acreditar no futuro construído por Blomkamp. Embora a realidade de Elysium pareça distante, na Terra podemos ver uma tecnologia sucateada e suja, que não tem tempo para acabamento, apenas funcionalidade. O filme se apropria de elementos atuais para construir esse futuro factível. Até mesmo a arma utilizada por Matt Damon em determinada parte do filme nada mais é do que um Ak-47 modificado.
O Elenco do filme, por sinal, está excelente. Matt Damon convence como um homem normal em uma situação desesperada, enquanto no elenco de apoio Wagner Moura e Alice Braga não fazem feio. Mas o destaque do filme (e minhas palmas) ficam para Sharlto Copley que nos entrega um mercenário com cara de mendigo, tão sujo quanto o mundo em que ele vive. Em meio a churrascos de rato e caminhadas no meio do lixão, o Agente Kruger encontra tempo para se divertir com seu trabalho. Usando traquitanas explosivas e sua katana (eu sei… absurdo, porém legal) esse psicopata será responsável por caçar Max antes que esse se torne um problema para Dalacourt (Jodie Foster), responsável por preservar o estilo de vida dos moradores de Elysium.
Por ter crescido na África do Sul, pobreza e diferenças sociais são assuntos comuns ao Blomkamp. Se em Distrito 9 ele conseguiu contar sua história de apharteid usando alienígenas radicados em guetos, agora, com o peso de um grande orçamento, ele precisou tornar esse assunto mais familiar para os americanos, que conseguem associar facilmente diferenças sociais e pobreza aos imigrantes. Embora o filme se passe em Los Angeles, pouco se fala em nações, e o inglês que se escuta no filme tem uma mistura muito grande de sotaques. É como se a globalização tivesse transformado o planeta em uma grande e única nação.
Apesar das críticas sociais, é bom frisar que Elysium ainda é um blockbuster completo, com cenas de ação muito bem orquestradas e efeitos especiais impecáveis. Mas não deixa de ser interessante ver em um filme tão comercial uma crítica direta à sociedade de consumo atual e, principalmente, à má distribuição de renda que rotula a condição humana de acordo com o poder aquisitivo de cada um. Pode ser que no futuro, afinal, não seja tão ruim que o paraíso também seja orkutizado.
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