Eu levava muito pouca fé em Homem-Formiga. Achava que a Marvel tinha perdido o timing para introduzir o personagem no seu universo cinematográfico. Não gostava da escolha de Paul Rudd para interpretar Scott Lang e fiquei “de cara” com a troca Edgar Wright por Peyton Reed da direção do filme.
Como é bom estar errado! Não estou dizendo que o filme é um espetáculo. Ele não é o novo Guardiões da Galaxia e também fica longe de ser épico como alguns filmes dos demais Vingadores. O Homem-Formiga consegue entender com maestria o tamanho e as limitações do seu personagem, criando adversidades à altura e permitindo que ele encontre, de maneira orgânica, o seu papel nesse universo habitado por seres superpoderosos, super-habilidosos ou super-ricos. Em outras palavras, ele não é o cara que vai acabar com uma ameaça global, mas é uma ótima alternativa para impedir que ela assuma tal escala.
Paul Rudd seria a minha última escolha para interpretar qualquer herói, ou sequer qualquer sujeito capaz de um ato heróico. O ator passou boa parte de sua carreira construindo a imagem do “cara legal”. Sua cara de paspalho sempre me passou a impressão de que ele estava no time dos que precisavam ser salvos, e não dos heróis.
Ainda no primeiro ato do filme, fica fácil de entender a escolha do ator para viver o novo pupilo de Hank Pym (Michael Douglas). Scott Lang não é um sujeito heróico. Mas, por obra do destino, ou por falta de escolha, ele terá que assumir o traje e se tornar o novo Homem-Formiga. Além de encolher e ficar super forte, Scott também ganhará outro poder graças a tecnologia de Hank. Ele será capaz de se tornar uma espécie de Cesar Millan das formigas. Bom saber né? Caso um dia você precise adestrar alguma.
Esse é possivelmente o herói mais “humano” que a Marvel conseguiu trabalhar nos cinemas. Scott não passa de um ladrão habilidoso, de bom coração, que perdeu a família enquanto brincava de Robin Hood, mas que, no processo, conseguiu chamar atenção do gênio Hank Pym. Não é com frequência que vemos um herói da Marvel, ex-presidiário, trabalhando em uma sorveteria e quebrando a cabeça para descobrir como vai conseguir pagar pensão. É nessa distância entre Scott e os outros heróis que ele ganha a nossa simpatia. O resultado dessa dinâmica toda, é a origem de um herói, disfarçada de filme de assalto. Por sinal, cabe ao lado “marginal” do filme, ditar o tom do humor. O destaque vai para Luis, personagem de Michael Peña. Suas histórias enroladas, gosto artístico e esteriótipo mexicano carregado fazem dele um excelente alívio cômico.
Michael Douglas, além de um bom Hank Pym, está excelente como a figura do mentor. Quem diria que aquele sujeito, com fama de tarado no início dos anos 90, conseguiria passar a serenidade necessária para assumir a figura de mestre. Evangeline “Kate” Lilly também está ótima como Hope. Ela parece estar mais a vontade ainda no universo Marvel do que estava na ilha de Lost, ou na Terra Média. Se continuar fazendo papéis de “chutadora de bundas”, em breve, Evangeline Lilly terá credencial para combater o crime até mesmo no mundo real. O ponto fraco do elenco fica por conta do vilão. Corey Stoll faz o papel de Darren Cross, o antigo pupilo de Hank Pym que pretende industrializar a tecnologia de encolhimento e vender para quem estiver disposto a pagar mais. Mesmo usando o traje mais bacana do filme (O Jaqueta Amarela ficou muito legal) o vilão tenta ser intenso demais e se perde na curva.
Tudo parece sério demais né? Mas é Marvel galera. Eu adoro o tom sombrio e “realista” que a DC consegui estabelecer em seus filmes. Para falar a verdade, eu até prefiro. Mas sou obrigado a admitir que apenas a Marvel é capaz de levar a sensação de curtir um gibi para os cinemas.