Rogue One é mais do que apenas “Uma História Star Wars”

rogueoneposterA Disney tem traçado um plano bem claro para as franquias Marvel e Star Wars. Enquanto grandes eventos que reúnem montes de personagens marcam as passagens de fase dos heróis da Casa das Ideias, filmes solo são encaixados em filmes de gênero. Enquanto Capitão América 2 foi um filme de espionagem à la Jason Bourne, Homem-Formiga se baseou na estrutura dos filmes de assalto como Uma Saída de Mestre e Onze Homens e um Segredo. Já na franquia da família Skywalker a opção foi trabalhar com trilogias, algo que já fazia parte da estrutura da saga, alternadamente com filmes também de gênero. O primeiro deles pode soar uma aposta um tanto óbvia, quando se carrega a marca Star Wars, mas Rogue One é um belíssimo exemplar de filme de guerra, com todos os seus cacoetes e clichês, mas que ao ganhar a roupagem da luta entre Rebeldes e Imperiais se torna algo único.

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Mas Guerra nas Estrelas já não é um filme de guerra?

 

Apesar do nome, Star Wars (ou Guerra nas Estrelas para os que já têm mais de 30 anos) está longe de ser um filme de guerra. Nem mesmo pode se encaixar no ramo da ficção-científica. A saga criada por George Lucas, assim como este último filme, já é um gênero travestido de outro. As histórias do Príncipe Valente que Lucas lia na infância, as corridas de carro que participava na adolescência e seu fascínio por novas tecnologias e formas de filmar histórias criaram Star Wars, esse belo recorte de referências e influências capaz de deixar crianças e adultos com a mesma idade por algumas horas. Se as trilogias principais são histórias clássicas de capa e espada com roupagem sci-fi, não é de se espantar que nos próximos anos tenhamos faroestes, filmes de máfia, de assalto, espionagem e épicos, todos passados dentro do universo imaginado por Lucas nos anos 70. Se o criador da série já havia homenageado Ben-Hur durante as corridas de pod de Episódio I e A Fortaleza Escondida, de Kurosawa, em Episódio IV, Rogue One é a oportunidade do diretor Gareth Edwards prestar seu respeito a filmes como Platoon e O Resgate do Soldado Ryan.

Rogue One serve como uma introdução melhor de Vader, e toda a imponência e medo que ele causa em seus inimigos e aliados, do que todo o filme de 1977

O longa se passa entre os acontecimentos dos episódios III e IV, quando o Império começa a se preparar para construir uma arma capaz de exterminar planetas inteiros em um piscar de olhos. O responsável por construir essa arma, que depois conheceremos como a Estrela da Morte, é o impiedoso (e inseguro) Orson Krennic, vivido pelo excelente Ben Mendelsohn. Para isso ele precisa sequestrar o gênio desertor Galen Erso, interpretado por Mads Mikkelsen, que abandonou o Império por não acreditar em seus ideais. Com a Estrela da Morte quase operacional Erso busca contato com a Aliança Rebelde, e sua filha Jyn (Felicity Jones), para informar que uma falha foi plantada propositalmente no projeto e, de posse dos planos de construção, é possível destruir a Estrela da Morte. É então que Jyn, juntamente com Cassian (Diego Luna) e o impagável robô K-2SO (Alan Tudyk) juntam uma equipe para recuperar os dados necessários de uma base imperial altamente protegida.

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Apesar de funcional durante toda a construção da trama, é em seu clímax com mais de 30 minutos de duração que a direção de Edwards se destaca. As várias frentes de combate tornam a batalha grandiosa e criam um senso de urgência raro hoje em dia, com filmes que teimam em ser apressados ao invés de ágeis. Focando em planos muito abertos no início da ação, o diretor consegue fornecer ao espectador o entendimento geográfico da cena, evitando com que os personagens pareçam sumir e ressurgir em outro lugar logo em seguida, algo muito comum em grandes sequências de ação como essa. O trabalho de Edwards é tão impressionante no trecho final do filme que temos a impressão de que esta foi a grande batalha vencida pela Aliança Rebelde, e Luke foi apenas o garoto sortudo que conseguiu acertar o tiro onde foi ordenado.

O roteiro escrito por Chris Weitz e Tony Gilroy a partir do conceito criado por Gary Whitta e John Knoll (e também George Lucas, afinal o esboço já aparece nas letras amarelas de Uma Nova Esperança) também alcança sucesso no que se refere a distribuir tempo de tela para todo seu elenco. Desde a excelente cena inicial, que coloca Galen Erso e o Diretor Krennic frente a frente em um embate tenso e cheio de nuances, até o destaque dado para a dupla Chirrut e Baze (Donnie Yen e Wen Jiang), para o solitário e desacreditado piloto desertor Bodhi Rook (Riz Ahmed) e também para Forest Whitaker, que interpreta um veterano da rebelião que leva em seu corpo (ou na falta dele) as marcas de seus anos de luta.

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“This is a rebellion
isn’t it?  I rebel.”

 

 

Mas essa relevância em tela para um elenco tão grande cobra um preço. O arco da protagonista parece um tanto quanto apressado em determinado momento do filme, passando de uma pessoa preocupada apenas em sobreviver ao próximo dia para uma espécie de Joana d’Arc intergalática no espaço de um discurso. Uma ou duas cenas mostrando um mínimo de hesitação em aceitar seu destino tornaria a personagem um pouco mais real e menos uma peça cumprindo sua função no tabuleiro. Além disso é inexplicável que a já célebre frase “This is a rebellion isn’t it? I rebel.” tenha ficado de fora do corte final. Talvez uma das frases mais marcantes da cultura pop em 2016, que rendeu camisetas, memes e tem uma enorme relevância antes mesmo do filme ser lançado, acabou vítima da montagem na sala de edição.

E Darth Vader? Onde fica nisso tudo? Bom… talvez seja justo dizer que Vader ganhou duas de suas melhores cenas até aqui. A fragilidade do personagem, e o que restou de seu lado humano, dá as caras de forma brutal em sua primeira aparição, contrastando com a fúria e a presença maligna da cena em que massacra uma dúzia de soldados rebeldes. Não se sabe se o personagem ainda vai aparecer muito nas telonas, portanto as impressões que ficam aqui são as melhores possíveis para os novatos na franquia. Me arriscaria a dizer que Rogue One serve como uma introdução melhor de Vader, e toda a imponência e medo que ele causa em seus inimigos e aliados, do que todo o filme de 1977.

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Rogue One veio para provar que a Disney está no caminho certo, e que nem só de família Skywalker vive Star Wars. Outros períodos históricos da saga ainda nem foram explorados e já é possível vislumbrar o infinito potencial de boas histórias presentes nesse universo fantástico. Em comparação com a Marvel, seus personagens pré-estabelecidos e fãs que desejam adaptações fiéis dos quadrinhos que já leram, Star Wars sai na frente por ser praticamente uma tela em branco para novos personagens, novas aventuras e, claro, novos capítulos da saga da família mais disfuncional do universo.

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  • Maykon Rabello

    As criticas do Leo e Marton sãos as melhores das interwebs da vida.

  • Edivaldo Alves

    Gde análise! Realmente uma pena q vc não tenha mais tempo para escrever críticas.