Páprica » Cinema http://paprica.org Cultura Pop com Tempero Fri, 12 Oct 2018 21:28:57 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.3.18 Precisamos da equipe de Baby Driver para Armada http://paprica.org/2017/07/precisamos-da-equipe-de-baby-driver-para-armada/ http://paprica.org/2017/07/precisamos-da-equipe-de-baby-driver-para-armada/#comments Mon, 31 Jul 2017 08:07:24 +0000 http://paprica.org/?p=25456 DESTAQUE_armada

A essa altura você já deve ter caído no hype de Baby Driver. O novo filme de Edgard Wright, que até poucos dias exibia invejosos 100% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes. E sim… o filme é tudo isso que estão falando e mais um pouco. Não, ele não é o novo Pulp Fiction e nem chegará com força nas grandes categorias do Oscar em 2018. Baby Driver é um filme jovem (não juvenil… jovem), novo, ágil, ritmado, empolgante, extremamente bem dirigido e magistralmente editado. É uma peça de cultura pop impecável dentro de sua proposta. É o tipo de obra despretensiosa, que surge do nada e cria uma marca onde antes existia o deserto da desinformação. Apesar do hype causado pelas críticas positivas uma obra assim não sofre da esperança e expectativa de fãs ardorosos de adaptações. Mas é pra esse tipo de filme que precisamos de uma equipe como a de Baby Driver. Não a equipe dos assaltos do filme, mas a de realizadores do longa.

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armada_capaDeixa eu falar pra vocês de Armada. Esse é o segundo livro de Ernest Cline. Ainda não ligou o nome a pessoa? Vamos lá: caso você não tenha passado a última semana em Marte, deve ter cruzado com o trailer de Jogador Nº1, divulgado na última San Diego Comic Con. O filme, dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, é a adaptação do primeiro romance de Cline, onde uma geração inteira de jovens corre atrás de uma caça ao tesouro dentro de uma realidade virtual chamada Oasis. A adaptação parece estar incrível, apesar da dificuldade para colocar em tela todas as referências que Cline descreve em suas páginas, que vão do famoso DeLorean de De Volta Para o Futuro ao robô Leopardon da série japonesa do Homem-Aranha. Ernest Cline é uma metralhadora de referências oitentistas, do visual às trilhas sonoras seus livros são o sonho molhado de Hollywood pois causam o tipo de emoção saudosista que Peter Quill despertou em Guardiões da Galáxia ao tocar Come and Get Your Love em seu walkman da Sony. Os realizadores dos anos 2010 nasceram e cresceram nos 80 e isso explica muito a existência de Jogador Nº1, Guardiões da Galáxia, Stranger Things, Baby Driver, Paper Girls e tantos outros produtos atuais com adoração pelo que aconteceu há 30 anos. Diabos… até o novo Homem-Aranha é baseado nos filmes adolescentes dos anos 80. Nossa geração dominou a parada. Chegou nossa vez.

Dado o contexto, então é hora de voltar a falar de Armada: em seu segundo livro Ernest Cline rouba descaradamente (ele realmente não esconde isso) o ponto de partida de um dos filmes de aventura mais clássicos dos anos 80 – O Último Guerreiro das Estrelas. A trama do livro (e quem conhece o filme citado vai reconhecer a similaridade) gira em torno de Zack, um adolescente em seus últimos dias de ensino médio e que não sabe bem o que fazer com sua vida assim que a escola acabar. Zack idolatra o pai, que faleceu quando ele ainda era um bebê. Os jogos, filmes, músicas e anotações do pai o acompanham em sua monótona vida classe média em uma cidade pequena dos Estados Unidos. O único lugar onde Zack se destaca é em um jogo online chamado Armada, onde ele ocupa um lugar de destaque nos jogadores top 10 do planeta. Nas anotações do pai, Zack encontra uma teoria da conspiração onde, de forma muito embasada, o falecido explica como o governo vem usando videogames para treinar a população mundial contra uma enorme Armada alienígena que pode invadir a Terra a qualquer momento. Nesse momento você deve imaginar que: sim. O pai de Zack estava certo e, como um dos principais pilotos de Drone de Combate do planeta, ele é levado por uma aliança terrestre para proteger o planeta em seu momento de maior risco. A partir daí a história rola em modo frenético com batalhas espaciais, reviravoltas na trama e tudo o mais que você pode imaginar. Resumindo: pegue O Último Guerreiro das Estrelas, Star Wars, O Jogo do Exterminador e uma trilha sonora oitentista incrível e você tem Armada.

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Mas e porque precisamos de Edgard Wright nesse filme? Quem já leu o livro e assistiu Baby Driver sabe do que estou falando. Mas basicamente Wright consegue contar uma história de forma rápida sem parecer apressado. Boa parte desse mérito é também de Jonathan Amos e Paul Machliss, montadores já acostumados ao “estilo Edgard Wright” de edição frenética e ritmada. Armada descreve muitas cenas onde Zack sincroniza os tiros de seus canhões com as bpm das músicas de sua playlist. Se tem alguém capaz de filmar um combate aéreo com inventividade, frescor e explosões ao ritmo de Queen… esse cara é Edgard Wright.

E eu vou mais longe: acho que Ansel Elgort (que já era a única coisa palatável de A Culpa é das Estrelas) daria um ótimo Zack, e o par dele em Baby Driver, Lily James, não se sairia mal como a badass Lex, interesse romântico do protagonista. Aliás Lilly e Lex tem em comum a total falta de profundidade característica das personagens femininas de Ernest Cline e das obras autorais de Edgard Wright (e pra ser justo, de 90% das obras de ficção escritas por homens. Mas isso é assunto para outro texto).

Como literatura Armada não é, nem de longe, tão bom quanto Jogador Nº1. A trama recorre a vários clichês e alguns plot twists são denunciados com quilômetros de antecedência. Mesmo assim, nas mãos certas, a adaptação pode resultar em uma obra audiovisual de apelo incrível. Não vai mudar a história do cinema, mas a Sessão da Tarde de 2025 precisa de material pop de qualidade sendo produzido hoje. Pra que as crianças que ainda nem nasceram possam brincar de guerra espacial ouvindo Queen em seus fones de ouvido.

Vai lá Edgard Wright. Quebra essa pra gente.

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Jumanji /// Os remakes foram longe demais http://paprica.org/2017/06/jumanji-os-remakes-foram-longe-demais/ http://paprica.org/2017/06/jumanji-os-remakes-foram-longe-demais/#comments Thu, 29 Jun 2017 18:21:52 +0000 http://paprica.org/?p=25422 jumanjidestaque

Não dá pra ser hipócrita quando se fala de remakes. O telhado da geração anos 80 é de vidro. King Kong não seria o ícone cultural que é hoje não fosse o remake de 1976. O nosso Scarface “clássico” é o de Al Pacino, do remake de 1983. Robert De Niro teve uma de suas melhores atuações em Cabo do Medo, remake do filme homônimo de 1962. A Mosca, clássico de David Cronemberg é, adivinhem: um remake.

Refilmar clássicos é necessário. Para atualizar a linguagem. Para fazer uma geração se apropriar de um ícone. Para revisitar um conceito interessante de forma mais contemporânea. São muitas as razões. Caça-Fantasmas de 2016 (goste você ou não do filme) é, na acepção da palavra, uma refilmagem. O mesmo conceito do original é usado para contar uma história similar nos dias atuais.

O que soa estranho hoje em dia é a quantidade de remakes (ou reboots, chame como quiser) se aproveitando apenas de um nome e de um visual já conhecido do público para criar algo que vagamente remete ao conceito da obra original. É o caso de Jumanji, com lançamento marcado para 4 de janeiro de 2018.

O trailer foi lançado hoje e traz um conceito bem interessante: jovens encontram um videogame antigo e, ao selecionar os personagens do jogo, são sugados para dentro do aparelho e passam a viver dentro dos corpos de seus avatares, com habilidades especiais, vidas extras (ao que parece) e todas as maluquices que viver dentro de um videogame podem proporcionar.

E quer saber? Faz todo o sentido! A estética videogame conversa com o público atual, o uso de avatares pode render boas piadas (como já visto em A Ressaca) e o carisma de atores como Dwayne “The Rock” Johnson e Jack Black pode segurar um filme assim. O grande problema é que isso não tem absolutamente nada a ver com Jumanji. Nem com o filme de 1995, estralado por Robin Williams, nem com o livro infantil de 1982 escrito e ilustrado por Chris Van Allsburg. Todo o conceito original se baseia em como pessoas normais sobrevivem a um ambiente extremo e, ainda por cima, o que aconteceria se esse ambiente fosse trazido para nosso mundo.Basicamente o mesmo conceito que transformou Uma Noite no Museu em uma franquia de três filmes.

Existiam muitas possibilidades para uma continuação ou reboot, mas o caminho escolhido foi usar o nome Jumanji e emprestá-lo a um outro filme com um conceito que poderia existir pelas próprias pernas. Fica a impressão de que esse era um roteiro que já circulava em hollywood há tempos e o nome foi amalgamado ali para que os investidores tivessem mais segurança na produção.

Eu tinha muitas esperanças de que a volta de Jumanji significasse que, finalmente, eu poderia comprar minha própria versão do jogo de tabuleiro mais perigoso de todos os tempos. Mas aparentemente vou ter que me contentar com mais um jogo estilo 8-bits.

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Homem-Aranha: De Volta ao Lar /// Divulgado novo trailer http://paprica.org/2017/03/homem-aranha-de-volta-ao-lar-divulgado-novo-trailer/ http://paprica.org/2017/03/homem-aranha-de-volta-ao-lar-divulgado-novo-trailer/#comments Tue, 28 Mar 2017 16:41:13 +0000 http://paprica.org/?p=25316 spiderDESTAQUE

E prepare-se, pois ele mostra mais do que deve:

Homem-Aranha: De Volta ao Lar, que tem Tom Holland no papel principal e Jon Watts na diereção, tem estreia marcada para 6 de julho.

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Rogue One é mais do que apenas “Uma História Star Wars” http://paprica.org/2016/12/rogue-one/ http://paprica.org/2016/12/rogue-one/#comments Fri, 16 Dec 2016 21:21:21 +0000 http://paprica.org/?p=25207 rogue-onedestaque

rogueoneposterA Disney tem traçado um plano bem claro para as franquias Marvel e Star Wars. Enquanto grandes eventos que reúnem montes de personagens marcam as passagens de fase dos heróis da Casa das Ideias, filmes solo são encaixados em filmes de gênero. Enquanto Capitão América 2 foi um filme de espionagem à la Jason Bourne, Homem-Formiga se baseou na estrutura dos filmes de assalto como Uma Saída de Mestre e Onze Homens e um Segredo. Já na franquia da família Skywalker a opção foi trabalhar com trilogias, algo que já fazia parte da estrutura da saga, alternadamente com filmes também de gênero. O primeiro deles pode soar uma aposta um tanto óbvia, quando se carrega a marca Star Wars, mas Rogue One é um belíssimo exemplar de filme de guerra, com todos os seus cacoetes e clichês, mas que ao ganhar a roupagem da luta entre Rebeldes e Imperiais se torna algo único.

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Mas Guerra nas Estrelas já não é um filme de guerra?

 

Apesar do nome, Star Wars (ou Guerra nas Estrelas para os que já têm mais de 30 anos) está longe de ser um filme de guerra. Nem mesmo pode se encaixar no ramo da ficção-científica. A saga criada por George Lucas, assim como este último filme, já é um gênero travestido de outro. As histórias do Príncipe Valente que Lucas lia na infância, as corridas de carro que participava na adolescência e seu fascínio por novas tecnologias e formas de filmar histórias criaram Star Wars, esse belo recorte de referências e influências capaz de deixar crianças e adultos com a mesma idade por algumas horas. Se as trilogias principais são histórias clássicas de capa e espada com roupagem sci-fi, não é de se espantar que nos próximos anos tenhamos faroestes, filmes de máfia, de assalto, espionagem e épicos, todos passados dentro do universo imaginado por Lucas nos anos 70. Se o criador da série já havia homenageado Ben-Hur durante as corridas de pod de Episódio I e A Fortaleza Escondida, de Kurosawa, em Episódio IV, Rogue One é a oportunidade do diretor Gareth Edwards prestar seu respeito a filmes como Platoon e O Resgate do Soldado Ryan.

O longa se passa entre os acontecimentos dos episódios III e IV, quando o Império começa a se preparar para construir uma arma capaz de exterminar planetas inteiros em um piscar de olhos. O responsável por construir essa arma, que depois conheceremos como a Estrela da Morte, é o impiedoso (e inseguro) Orson Krennic, vivido pelo excelente Ben Mendelsohn. Para isso ele precisa sequestrar o gênio desertor Galen Erso, interpretado por Mads Mikkelsen, que abandonou o Império por não acreditar em seus ideais. Com a Estrela da Morte quase operacional Erso busca contato com a Aliança Rebelde, e sua filha Jyn (Felicity Jones), para informar que uma falha foi plantada propositalmente no projeto e, de posse dos planos de construção, é possível destruir a Estrela da Morte. É então que Jyn, juntamente com Cassian (Diego Luna) e o impagável robô K-2SO (Alan Tudyk) juntam uma equipe para recuperar os dados necessários de uma base imperial altamente protegida.

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Apesar de funcional durante toda a construção da trama, é em seu clímax com mais de 30 minutos de duração que a direção de Edwards se destaca. As várias frentes de combate tornam a batalha grandiosa e criam um senso de urgência raro hoje em dia, com filmes que teimam em ser apressados ao invés de ágeis. Focando em planos muito abertos no início da ação, o diretor consegue fornecer ao espectador o entendimento geográfico da cena, evitando com que os personagens pareçam sumir e ressurgir em outro lugar logo em seguida, algo muito comum em grandes sequências de ação como essa. O trabalho de Edwards é tão impressionante no trecho final do filme que temos a impressão de que esta foi a grande batalha vencida pela Aliança Rebelde, e Luke foi apenas o garoto sortudo que conseguiu acertar o tiro onde foi ordenado.

O roteiro escrito por Chris Weitz e Tony Gilroy a partir do conceito criado por Gary Whitta e John Knoll (e também George Lucas, afinal o esboço já aparece nas letras amarelas de Uma Nova Esperança) também alcança sucesso no que se refere a distribuir tempo de tela para todo seu elenco. Desde a excelente cena inicial, que coloca Galen Erso e o Diretor Krennic frente a frente em um embate tenso e cheio de nuances, até o destaque dado para a dupla Chirrut e Baze (Donnie Yen e Wen Jiang), para o solitário e desacreditado piloto desertor Bodhi Rook (Riz Ahmed) e também para Forest Whitaker, que interpreta um veterano da rebelião que leva em seu corpo (ou na falta dele) as marcas de seus anos de luta.

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“This is a rebellion
isn’t it?  I rebel.”

 

 

Mas essa relevância em tela para um elenco tão grande cobra um preço. O arco da protagonista parece um tanto quanto apressado em determinado momento do filme, passando de uma pessoa preocupada apenas em sobreviver ao próximo dia para uma espécie de Joana d’Arc intergalática no espaço de um discurso. Uma ou duas cenas mostrando um mínimo de hesitação em aceitar seu destino tornaria a personagem um pouco mais real e menos uma peça cumprindo sua função no tabuleiro. Além disso é inexplicável que a já célebre frase “This is a rebellion isn’t it? I rebel.” tenha ficado de fora do corte final. Talvez uma das frases mais marcantes da cultura pop em 2016, que rendeu camisetas, memes e tem uma enorme relevância antes mesmo do filme ser lançado, acabou vítima da montagem na sala de edição.

E Darth Vader? Onde fica nisso tudo? Bom… talvez seja justo dizer que Vader ganhou duas de suas melhores cenas até aqui. A fragilidade do personagem, e o que restou de seu lado humano, dá as caras de forma brutal em sua primeira aparição, contrastando com a fúria e a presença maligna da cena em que massacra uma dúzia de soldados rebeldes. Não se sabe se o personagem ainda vai aparecer muito nas telonas, portanto as impressões que ficam aqui são as melhores possíveis para os novatos na franquia. Me arriscaria a dizer que Rogue One serve como uma introdução melhor de Vader, e toda a imponência e medo que ele causa em seus inimigos e aliados, do que todo o filme de 1977.

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Rogue One veio para provar que a Disney está no caminho certo, e que nem só de família Skywalker vive Star Wars. Outros períodos históricos da saga ainda nem foram explorados e já é possível vislumbrar o infinito potencial de boas histórias presentes nesse universo fantástico. Em comparação com a Marvel, seus personagens pré-estabelecidos e fãs que desejam adaptações fiéis dos quadrinhos que já leram, Star Wars sai na frente por ser praticamente uma tela em branco para novos personagens, novas aventuras e, claro, novos capítulos da saga da família mais disfuncional do universo.

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A Chegada http://paprica.org/2016/12/a-chegada/ http://paprica.org/2016/12/a-chegada/#comments Mon, 05 Dec 2016 19:09:53 +0000 http://paprica.org/?p=25114 destaqueachegada

A Chegada não é muitas coisas que, por definição, poderia parecer ser. Não é uma fição científica, por exemplo, embora compartilhe muitos elementos com esse gênero. Não é uma aventura heróica, por mais que vários passos da construção do mito do herói de Campbell apareçam na trama. Não é um drama, embora seja por vezes devastador e sensível. Na verdade, seria mais justo dizer que A Chegada não é apenas uma dessas coisas.

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O novo filme do diretor canadense Dennis Villeneuve, que chegou aos cinemas brasileiros no final de novembro, explora as consequências da chegada de 12 naves alienígenas ao planeta Terra e as tentativas dos governos ao redor do mundo em conseguir entender o objetivo dos visitantes. Em meio a isso a linguista Louise Banks, interpretada por Amy Adams, é chamada pelo governo americano para tentar compreender o idioma alienígena e possibilitar assim a comunicação entre as duas espécies. Forest Whitaker e Jeremy Renner compõem o elenco que orbita ao redor de Louise, seus dramas pessoais, suas memórias e sua obsessão pela quebra do código extraterrestre.

Villeneuve cria, mais uma vez, um filme difícil de catalogar, assim como foram O Homem Duplicado, Os Suspeitos e Sicario. Não é incomum ao diretor buscar projetos que lhe permitam usar de uma determinada estética para desconstruir seus elementos e partir com a história para um lugar próprio e inusitado. Algo típico de alguém apaixonado pela linguagem. Nesse caso, a linguagem cinematográfica. Não é a toa que, durante boa parte do longa, os protagonistas estão encarando um retângulo branco, com as proporções exatas de uma tela de projeção de cinema e é menos ao acaso ainda que os dois alienígenas ganham os apelidos de Abbott e Costello. É diante de uma tela branca que a história se desenrola e, com as imagens projetadas nela que Villeneuve se comunica com seu público. Se a ficção mostra na tela uma linguagem com capacidade unificadora, do lado de cá da outra tela também observamos uma forma de comunicação que é capaz de falar com todos os seres humanos em algum nível.

Não é difícil, sob essa ótica, entender a motivação da protagonista através do olhar do próprio diretor. Enquanto Louise luta para entender o funcionamento de uma língua aparentemente amorfa, o espectador luta para compreender os signos lançados através de flashes da vida da protagonista e o diretor luta para que tudo isso venha a convergir em algo satisfatório narrativamente. Em determinado momento todos recebemos a iluminação de que não há, necessariamente, uma única maneira de contar uma história. Se a linguagem alienígena exige que o leitor enxergue o todo, ao invés de parte após parte, o longa exige que o espectador se entregue a narrativa enquanto ela ainda está cheia de espaços, tal qual a tela em branco que junto aos protagonistas observamos durante tanto tempo. O resultado é catártico e brilhante.

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O que vemos em tela também é fruto do trabalho de Eric Heisserer, roteirista que adaptou para as telas o conto Story of Your Life de Ted Chiang. Durante todo o filme é possível perceber a máxima do “não conte, mostre”, tão usada por professores de redação no mundo todo. São raros os diálogos expositivos durante toda a projeção. Personagens não explicam como se sentem, ou o que sentem, ou porque sentem. Situações nos mostram frações desses sentimentos e constroem cada cena de forma muito orgânica. Esse tipo de cuidado no roteiro de um filme que trata de explicar uma área de estudo intrincada como a linguística, é algo louvável.

Como dito no primeiro parágrafo desse texto, A Chegada não é muitas coisas. Nele você não vai encontrar um novo Independence Day. Não há guerra. Não há ameaça presente, fora nossa própria incapacidade de nos comunicar enquanto espécie. Há, sim, a possibilidade de você encontrar um dos melhores filmes de 2016, produzido por um dos melhores diretores da atualidade. Mas não se engane, A Chegada não é uma ficção científica, assim como o português e o inglês não são a mesma língua por compartilharem a letra A em seu alfabeto.

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The Birth of a Nation /// Confira o 1º Teaser do Filme http://paprica.org/2016/04/birth-of-a-nation-confira-o-1o-teaser-do-filme/ http://paprica.org/2016/04/birth-of-a-nation-confira-o-1o-teaser-do-filme/#comments Fri, 15 Apr 2016 18:52:01 +0000 http://paprica.org/?p=24799 DESTAQUE_BON

Vamos lá! Eu grito Sundance…vocês gritam The Birth of a Nation!

Ok, isso vai ficar horrível. Mas, verdade seja dita, é impossível falar sobre a edição de 2016 do Festival de Sundance sem falar sobre esse filme que fez questão de adotar um nome tão controverso. Vencedor do Prêmio do Juri no festival, o filme possui o mesmo título que a obra clássica de 1915, que serviu como peça de propaganda para a KKK (não tem ninguém rindo aqui amigão).

Antes mesmo da cerimônia de entrega do Oscar de 2016, muitos críticos já consideravam a possibilidade de The Birth of a Nation estar entre os indicados de 2017.

A curiosidade para saber um pouco mais sobre esse filme era grande. Agora, com o lançamento do primeiro teaser, fica comprovado que essa obra merece a sua atenção. Não acredita? Pois veja você mesmo!

“I pray you sing a new song!”

The Birth of a Nation conta a história real do escravo Nat Turner. Ainda criança, Turner aprendeu a ler para que pudesse estudar a Bíblia e se tornar um pastor para os outros escravos. Quando seu “dono” decide levá-lo em uma viagem pelo país para espalhar a palavra de Deus, Turner passa a testemunhar os absurdos da escravidão e decide se tornar um outro tipo de líder.

Nate Parker assina a direção, roteiro e interpreta Nat Turner. O filme estreia 7 de Outubro nos Estados Unidos.

 

 

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Batman e Superman vs o Monstro da Expectativa http://paprica.org/2016/03/batman-e-superman-vs-o-monstro-da-expectativa/ http://paprica.org/2016/03/batman-e-superman-vs-o-monstro-da-expectativa/#comments Mon, 28 Mar 2016 18:08:17 +0000 http://paprica.org/?p=24715 DESTAQUE_BvS

Em 1973, na Suécia, um homem armado entrou em um banco e fez quatro funcionários como reféns. Durante os seis dias em que permaneceram em poder do sequestrador, as vítimas desenvolveram sinais claros de uma improvável empatia para com o algoz. Pequenas atitudes como soltar as amarras, permitir ir ao banheiro e beber água, passaram a ser interpretadas pelos confinados como demonstrações de afeto. Tal foi o efeito devastador na mente dessas pessoas que, quando houve a ação de libertação por parte da polícia, elas se despediram com abraços em seu sequestrador. O criminologista Nils Berejot cunhou o termo que ficaria famoso por descrever esse tipo de situação: Síndrome de Estocolmo.

Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, dirigido por Zack Snyder, é o produto de um estúdio que fez os fãs de histórias em quadrinhos reféns durante mais tempo do que seria aconselhável e, graças a isso, colhe resultados positivos e negativos. Os negativos, obviamente, são os reviews desfavoráveis que o filme vem recebendo por boa parte da crítica especializada, o que causa desconfiança no espectador que não conhece tanto assim o universo de super-heróis. O ponto positivo é o amor incondicional de alguns fãs, que defendem o longa com unhas e dentes, mesmo que ele não os tenha tratado com o carinho que mereciam.

Pensado como uma continuação direta de O Homem de Aço, de 2013, esse longa tenta algo ambicioso: estruturar os pilares para um universo cinematográfico da DC, enquanto adapta um embate emblemático dos quadrinhos. Conhecidos como “Os Melhores do Mundo”, Batman e Superman já se enfrentaram diversas vezes, muitas delas devido ao estilo diferente de combater o crime, que caracteriza os dois personagens. Mas aqui, a opção foi por tornar a disputa real graças a um vilão, Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que manipula ambos para concluir um objetivo comum. Infelizmente as motivações que tornariam esse vilão grandioso e odiado são subentendidas, não ficando totalmente claras para quem o conheceu apenas nesse filme. E talvez esse tenha sido o pior erro de Snyder. Por vezes considerar que o espectador já conhece alguns personagens, e por isso tornaria-se desnecessário situá-lo nesse universo, e em outras mudar características conhecidas dos fãs, removendo peças básicas de suas personalidades. O resultado acaba ficando perdido entre uma reinvenção autoral e um filme feito para fãs.

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É Incrível e assustador assistir ao ápice da batalha entre Superman (Henry Cavill) e Zod da perspectiva de um mortal. Toda essa sequência serve muito bem ao propósito de mostrar quem é Bruce Wayne (Ben Affleck) e o que ele está disposto a sacrificar pelo bem dos outros. É emblemática e lindamente construída a cena onde a câmera acompanha o personagem correndo de encontro à nuvem de escombros, enquanto os demais fogem. Por isso mesmo é um tanto decepcionante perceber o quão pouco o roteiro de David Goyer e Chris Terrio compreende a essência dos personagens que busca adaptar. O Homem-Morcego desse filme é um maníaco homicida que cansou de lutar com bandidos comuns e tenta salvar o mundo de uma ameaça maior, enquanto despeja tiros de .50 saídos de seu batmóvel. Meu lado nerd grita que ‘’Batman nunca usaria uma metralhadora para explodir seres humanos, ele valoriza a vida, etc, etc, etc…”. Mas essa é uma nova visão sobre o personagem e não necessariamente deve se manter fiel a conceitos pré-estabelecidos nos quadrinhos. Não seria justo, portanto, analisar o roteiro com base no que eu acho que ele deveria ser. Mas você ficou curioso com o que EU queria ver?

Sonhei em ir ao cinema assistir a um filme onde o Batman não matasse. Onde Superman tivesse superado sua adolescência tardia vista em O Homem de Aço para assumir sem pudores sua condição no mundo. Onde Jesse Eisenberg não tivesse se inspirado em alguma versão do Charada para interpretar seu Lex Luthor. Mas isso tudo é apenas o que eu gostaria de ver no cinema. A execução ser diferente de minha expectativa não é algo necessariamente ruim, muito menos errado. Nem por isso vou me apegar às qualidades do longa para esconder que esse possui erros que não são apenas questão de interpretação da obra. E não são poucos.

O principal furo no roteiro de Batman vs. Superman é construção de seu vilão, já que ela praticamente inexiste. O texto tenta nos dar uma razão para a loucura de Lex apenas no ato final, onde ele diz ter sido vítima de violência por parte do pai. Pode parecer uma justificativa boba, mas não existem justificativas bobas, existem saídas covardes de roteiro. Jogar essa informação em meio a um diálogo esquizofrênico é a solução fácil. Perdeu-se ali a oportunidade de tornar o personagem tridimensional, de entender seus maneirismos, seus cacoetes, sua covardia. Talvez Jesse Einsenberg ao construir um personagem tão caricato tenha o salvado de ser apenas o cara ruivo que quer, por algum motivo, matar o Superman. Explorar o medo e o excesso de controle de Luthor o traria para perto do espectador ao mesmo tempo que justificaria seu enorme ego, causando empatia e dúvida, mas o roteiro opta pelo caminho mais fácil: resumir um personagem com 70 anos de história a uma frase solta no meio de um discurso megalomaníaco.

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Outro elo, inexplicavelmente, fraco da trama é o próprio Superman / Clark Kent. Nos corredores do Planeta Diário se comenta que sua demissão é iminente, já que é odiado pelo editor do jornal e não faz nada para mudar essa situação. Sua veia jornalística teve preguiça até mesmo de procurar mais informações sobre o vigilante de Gotham além daquelas vindas de… outros jornalistas! Clark como jornalista e Bruce como detetive são desastres, já que um dia de trabalho bem feito (por parte de qualquer um dos dois) teria evitado o embate que dá nome ao filme. Mais uma adaptação a qual teremos que nos acostumar, pois Batman não é o maior detetive do mundo e Clark não é um repórter competente e sagaz. E novamente, isso não torna o filme ruim, apenas descaracteriza todos os arquétipos que já temos construídos sobre os personagens.

Mas se o filme possui muitos defeitos nítidos, também acumula méritos. O Batman de Ben Affleck é simplesmente incrível na tela. A técnica brutal de luta e as sombras servindo como esconderijo lembram as cenas vistas nos videogames recentes do personagem e são maravilhosas de se acompanhar em live action. Gal Gadot destruiu as críticas negativas que recebeu por sua escalação, se mostrando onipresente como Mulher Maravilha sempre que a câmera aponta para ela. Aliás, se existe algo que Snyder sabe filmar são cenas de ação. Sua mistura videoclíptica de trilha sonora e enquadramentos grandiosos transforma o ato final do longa em uma disputa surreal de seres ultrapoderosos. Ninguém, repito, ninguém filma cenas que parecem saídas de um gibi como esse cara.

E quando falamos mais a fundo sobre Snyder, entendemos um pouco melhor a dissonância de opiniões que tem tomado a internet de assalto. Apesar de ser um diretor competente e de dar forma a uma responsabilidade que seria grande demais para a maioria dos diretores, Snyder mentiu pra todos nós quando se vendeu como um super nerd. O diretor, tanto em Watchmen, quanto em O Homem de Aço e também em A Origem da Justiça, não está interessado em mostrar NOSSOS personagens no cinema. Aquelas personalidades a que estamos acostumados e que, muitos de nós, crescemos lendo em nossas histórias em quadrinhos, não são o interesse do diretor. Seja por uma megalomania digna de seu Lex Luthor, seja por uma genuína intenção de levar os personagens a um próximo nível, Snyder transforma os personagens de acordo com a história que quer contar, e não é de hoje que suas decisões causam polêmica e, quase nunca, são totalmente justificadas. Quem já leu Watchmen e assistiu a adaptação para o cinema sabe do que estou falando. A solução final idealizada pelo autor Alan Moore parecia fantástica demais, a resolução proposta por Snyder é mais palatável, mas destrói boa parte do simbolismo imposto desde o primeiro requadro da história em quadrinhos.

Independente de você ter amado ou odiado Superman vs. Batman (aparentemente essas são as duas opções possíveis, segundo a internet), tem que concordar que gastar MEIO BILHÃO DE DÓLARES para ter uma recepção tão dividida não é exatamente o sonho dos executivos da Warner. Não existe conspiração contra o filme, não existe hate proposital. O que todos queriam era um filme impecável, capaz de redefinir todos os conceitos que temos até hoje e subir o nível da nossa régua de avaliação. É isso que se espera quando se reúne a trindade da DC Comics em um único frame de um longa metragem tão caro, mas não foi o que aconteceu. Temos um filme bacana, com alguns momentos de arrepiar (“Eu sou um amigo do seu filho” me fez sorrir feito bobo) e que servirá para estabelecer um universo mais amplo para o futuro próximo. Sim, ele vai dar lucro e terá continuações, mas Batman vs. Superman não é uma declaração de amor da Warner para seus fãs. No máximo, ela afrouxou nossas algemas.

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Capitão América: Guerra Civil http://paprica.org/2016/03/capitao-america-guerra-civil/ http://paprica.org/2016/03/capitao-america-guerra-civil/#comments Thu, 10 Mar 2016 17:10:03 +0000 http://paprica.org/?p=24633 homemaranha

É hoje! Nem sempre costumamos publicar trailers aqui no Páprica. Aliás, ao ler esse post, você provavelmente já assistiu ao trailer na sua timeline do Facebook, mas vai assistir de novo simplesmente por ele estar aqui, logo abaixo, ao alcance de um clique.

E, claro, porque tem o Homem-Aranha nele.

Capitão América: Guerra Civil estreia aqui no Brasil dia 28 de abril.

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Ryan Reynolds pode ter mudado a indústria dos super-heróis no cinema http://paprica.org/2016/02/ryan-reynolds-pode-ter-mudado-a-industria-dos-super-herois-no-cinema/ http://paprica.org/2016/02/ryan-reynolds-pode-ter-mudado-a-industria-dos-super-herois-no-cinema/#comments Thu, 25 Feb 2016 16:00:33 +0000 http://paprica.org/?p=24565 DESTAQUE_reynolds

Caso você acompanhe o Páprica há algum tempo, já deve conhecer meu apreço por este expoente do celeiro de atores canadenses. A brilhante carreira de Ryan Reynolds intercala comédias românticas “fofas” com filmes de ação ruins, onde o sujeito parece estar constantemente deslocado. Quase sempre faz uso de sua marca registrada: uma cara de bobo, com sobrancelhas caídas.

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Essa cara.

 

 

Mas nos últimos meses Reynolds se tornou uma espécie de embaixador da zueira. O último bastião do nerd huehue, politicamente incorreto, falastrão, inconveniente, ultra-violento, sagaz e deformado. Desde o trailer exibido na San Diego Comic Con do ano passado Deadpool e seu intérprete foram abraçados pela internet, pelos fãs de quadrinhos e, principalmente, pelos fãs do personagem.

Se o longa que estreou nos cinemas agora em fevereiro (leia nossa crítica aqui) vem quebrando recordes e colecionando reviews positivos, tudo se deve a Reynolds. A insistência para readaptar o personagem que já havia interpretado em Wolverine: Origens, se mostrou mais do que uma busca obcecada por aceitação. A suspeita de que seu lugar de respeito no coração dos nerds estava logo ali, dobrando a esquina, fez com que ele se jogasse de cabeça em dois projetos que eram, por não achar palavra menos ofensiva, errados. O já citado papel no primeiro filme solo de Wolverine e a adaptação de Lanterna Verde tinham tudo para jogar uma pá de cal nas expectativas de Reynolds em ser aclamado durante uma Comic Con.

Mas esse cara… esse cara é um filho da puta persistente.

Junto com o diretor Tim Miller, Reynolds produziu um teste de Deadpool totalmente em computação gráfica. Ao contrário de Edgar Wright, que convenceu a Marvel de que seu Homem-Formiga era viável nos bastidores, Reynolds e Miller tiveram a “sorte” de ter a cena (feita para ser assistida apenas pelos executivos da Fox) “vazada na internet”. A rede quebrou. Os fãs piraram. O estrago estava feito. Menos de 48 horas depois do “vazamento”, os executivos haviam liberado quase 60 milhões de dólares para a produção do filme.

E 60 milhões de dólares é um monte de dinheiro. Dá pra comprar uma frota de 6.500 carros populares (a Globo adora calcular prêmios da Mega-Sena em carros populares). Ou 912 milhões de Bubbaloos. Ou ainda uns 19 iates como o do Luciano Huck. Mas pra produzir um blockbuster esse não é exatamente um orçamento gordo. Mas tudo bem. Temos um personagem querido pelos fãs mas desconhecido do grande público. Temos um orçamento magro e um astro que não é conhecido por suas capacidades dramáticas. Como podemos piorar as projeções de sucesso desse projeto? Aumentando a classificação indicativa para “menores de 17 anos apenas acompanhados pelos pais”, é claro. No momento em que a Fox percebeu os planos de Miller e Reynolds, deve ter considerado que havia apostado muito dinheiro em um cavalo perneta.

E, apesar de contra todas as probabilidades, o filme deu certo. Um filme com apelo jovem, repleto de piadas feitas para os adolescentes, mas que não poderia receber grupos de adolescentes no cinema. Talvez isso tenha feito a audiência aumentar (já que cada adolescente teve que arrastar um dos pais ao cinema). Ou talvez ainda isso fale mais sobre a infantilização da Geração Y do que estou disposto a discutir nesse texto. O fato é que Deadpool já era um fenômeno antes de sua estreia.

Mas sabe o que é genial nisso tudo? Talvez a insistência de Ryan Reynolds tenha mudado o futuro dos super-heróis no cinema.

IMAGENS_SEMI_POSTSryanreynolds

Talvez, só talvez, os estúdios tenham percebido que nem toda história deve ser para a família toda, por mais que isso pareça lucrativo quando lançado na planilha do Excel. Talvez agora se perceba que nem todo personagem de quadrinhos deve ser interpretado por um galã que teima em tirar a máscara durante 2/3 do longa (i’m talking to you, Mr.Evans). Talvez alguém perceba que para produzir um belo filme do Wolverine, não sejam necessários 200 milhões de dólares, que o obrigam a ter uma classificação leve. Um filme solo do Wolverine deveria ser a cruza do inferno entre um Charles Bronson musculoso e a busca desesperada por vingança de um Oldboy, e não um sujeito de 1,80 enfiando facas digitais nos outros e fazendo cara de quem tem prisão de ventre. Hugh Jackman se esforça, mas é difícil contar a história de um cara com 6 espadas que saem de suas mãos sem traumatizar o menino de 10 anos que conhece o personagem dos desenhos da TV. A Fox parece ter percebido: o próximo filme de Wolverine, anunciado como último de Hugh Jackman na pele do personagem, vai ganhar classificação etária máxima.

Filmes mais baratos não significam filmes piores. Para tirar a prova basta comparar as duas produções de um personagem bastante obscuro dos quadrinhos ingleses: Juiz Dredd. A situação era quase a mesma. Personagem desconhecido do grande público, com um estilo cheio de violência e enredos pesadíssimos. Temos ainda o agravante de que não existem dezenas de pessoas fantasiadas de Dredd circulando pelas Comic Cons. Dredd é o personagem roots de verdade. Pouca gente conhece, menos gente ainda havia lido o material nos quadrinhos. Mesmo assim um filme com orçamento de 70 milhões de dólares (uma quantia relevante para os anos 90) foi produzido. Um grande astro, no caso Sylvester Stallone, teimou em mostrar a cara durante boa parte do filme. Uma heresia para os 15 fãs dos quadrinhos, mas o filme fracassou imensamente por ser, de verdade, muito ruim. Dezessete anos depois e com metade desse orçamento, tivemos Dredd, que respeitou o material original e entregou um filme seco, objetivo e violento, como o personagem pedia. Também fracassou nas bilheterias, mas virou cult. Foi feito do jeito certo.

Então, por mais bizarro e inusitado que isso possa parecer, se no próximo Wolverine vermos Logan apagando um charuto meio mascado no globo ocular de uma cabeça decapitada, você tem que agradecer Ryan Reynolds e sua maldita teimosia por isso.

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Deadpool /// Obrigado Caos! http://paprica.org/2016/02/deadpool-obrigado-caos/ http://paprica.org/2016/02/deadpool-obrigado-caos/#comments Thu, 11 Feb 2016 10:40:25 +0000 http://www.papricast.com.br/?p=24276 DESTAQUEDEADPOOL

poster_deadpoolDeadpool popularzão. Zueiro. Hue hue BR. Tá aí um fenômeno que eu não esperava estar vivo pra ver.

Aliás… você aí, garoto juvenil… senta aqui que o tio vai te contar uma história: eu fui adolescente nos anos 90. Uma época estranha. Pra cacete. Foi nessa época que todos os super-heróis começaram a morrer. Ou ficar tetraplégicos. Ou ganhar clones. Ou perder os poderes. Essa época era tão, mas tão doida, que pra ser desenhista de quadrinhos nem mesmo era preciso saber desenhar. Sério.

Muita, mas muita coisa ruim foi produzida. O mercado de colecionadores estava altamente aquecido, então qualquer revista que estampasse um “Nº1” na capa era rapelada das prateleiras rapidamente por especuladores, sem perceberem que nada que é produzido na casa dos milhões de unidades tem valor como colecionável. Wolverine era uma febre e figurava em nove entre dez capas da Marvel. A era dos anti-heróis estava instaurada e Deadpool é seu filho mais bem sucedido. Mas nessa época ele não era da zueragem. Ele era um vilão genérico, com poderes genéricos, uniforme genérico e um senso de humor peculiar.

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E por que eu estou falando de tudo isso ao invés de focar no filme? Porque tudo cobra um preço.

Junto com a qualidade do produto, a Marvel também despencou e chegou a declarar falência. Para fugir das dívidas crescentes, vendeu a preço de banana os direitos de vários de seus personagens. Foi assim que o Homem-Aranha foi parar na Sony e os X-Men na Fox. Foi assim que a Fox fez X-Men faturar mais de 300 milhões de dólares. Foi assim que uma cagada administrativa mudou a ordem dos eventos e transformou o cinema dos últimos 16 anos. Foi assim que se tornou possível eu ter acabado de sair de uma sessão de cinema que exibiu um filme de um personagem secundário, praticamente um subproduto, e que há pouco mais de 20 anos sequer existia. Foi assim que o universo se contorceu para que um plágio, criado por um artista incompetente, se transformasse em fenômeno. Um dos filmes mais aguardados dos últimos tempos. Respect, Teoria do Caos.

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Aliás… caos é uma palavra que define bem Deadpool (agora sim o filme). No melhor sentido da palavra, diga-se de passagem. Honrando a tradição do personagem nos quadrinhos, a adaptação para o cinema é uma longa piada de 1h47m, repleta de referências ao universo pop e aos próprios personagens e atores do filme, humor físico, violência estilizada, diálogos mordazes e/ou lascivos e muitos, muitos recursos vindos da animação. Não por acaso, já que o diretor Tim Miller faz sua estreia no live-action carregando toda sua experiência em animação para distorcer o tempo, os ângulos e os cortes de uma maneira que só a magia 3D é capaz de proporcionar.

Agora convenhamos: Ryan Reynolds não é o melhor ator do mundo (e o próprio longa faz piada com isso) mas o papel lhe cai como uma luva. Reynolds e sua cara de bobão colecionam uma bela cota de fracassos e dessa vez, tenho que adminitr, temos um acerto. É impossível, a partir de agora, separar ator e personagem. Há uma empatia imediata que não ocorria desde que vimos Robert Downey Jr. como Tony Stark pela primeira vez.

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Deadpool quebra pernas e braços (os próprios, por vezes) e também a quarta parede. Ou a oitava. Ou a décima sexta parede. São tantas interações, flashbacks e cenas de ação que lá pela metade do filme temos a impressão de ter participado de um curso de leitura dinâmica ministrado por um palestrante hiperativo. Estranhamente o fluxo de adrenalina constante não atrapalha, tanto que no segundo ato, quando temos um breve descanso da aleatoriedade de piadas e referências para vermos a história se encaminhar para o clímax, o ritmo parece errado, lento, tedioso. Felizmente isso dura apenas 15 ou 20 minutos, até sermos conduzidos para o terceiro ato com mais insanidade, gente morta e humor non-sense.

Não importa o quão inadequada e inoportuna seja a origem do personagem, as adaptações de personalidade que sofreu ao longo dos anos ou as diferentes alternativas narrativas experimentadas até termos um personagem/paródia tal qual o que existe hoje. O que importa é que os super-heróis no cinema estão em um momento em que é possível se esbaldar com algo tão deliciosamente dispensável quanto Deadpool. E que venha a franquia.

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