“Para entender o que tenho a dizer, você precisa fazer algo antes.Você precisa acreditar no impossível. Consegue fazer isso? Ótimo.”
Quando essa é a primeira frase de qualquer história, prepare-se. Os roteiristas não estão nem um pouco dispostos a trabalhar para fazer você acreditar e comprar a história. Basicamente qualquer roteiro de ficção-científica baseia-se no improvável e no inexplicável, mas com um pouco de trabalho, blábláblá high-tech e artimanhas de roteiro, o impossível torna-se plausível para o público. Coisa natural para uma história bem contada. Mas deixar no ar um “acredite nisso porque sim” é duvidar do próprio roteiro, suplicando que o espectador não faça perguntas que são incapazes de ser respondidas pela equipe.
Pois apesar de todas as ressalvas da pré-produção (e depois de um “vazamento” que fez a internet inteira comentar o episódio piloto meses antes de sua estreia) finalmente chega a TV brasileira nesta quinta-feira, dia 16 de outubro, a série The Flash.
Barry Allen é um jovem cientista forense que trabalha para o departamento de polícia de Central City. Depois de um misterioso acidente Barry fica 9 meses em coma e, ao acordar, percebe que adquiriu o poder de se mover muito rapidamente, e passa a usar suas habilidades para combater o crime em sua cidade.
O s01e01 de The Flash não é exatamente o desastre que eu (e muita gente) esperava. Tampouco tem potencial para empolgar os fãs como era necessário. É apenas uma atração com tom juvenil e violência estilizada, própria para atrair o grande público e ser assistido por toda a família. Um Barry Allen, aparentemente, recém saído do segundo grau enfrenta dilemas adolescentes (como contar para uma garota que está interessado nela) e também vilões que tem todo o potencial amedrontador de um ventilador ligado na velocidade máxima. Por outro lado, os efeitos especiais acertam na maioria do tempo (exceto quando tentam mostrar a expressão de Barry correndo e o fundo borrado), dando uma percepção interessante de como a supervelocidade funciona para quem é superveloz. Diferente do seriado dos anos 90, onde o Flash parecia ter a velocidade de um carro esporte, aqui realmente temos a impressão de que o herói pode alcançar grandes velocidades e fazer muitas coisas com isso, além de chegar rápido em algum lugar. Resta torcer para que a Warner não faça aqui o mesmo que em Smallville, quando caprichava nos efeitos em apenas um ou dois episódios da temporada, deixando os outros para o estagiário terminar no programa 3D instalado no Computador do Milhão.
Falando em Flash dos anos 90, a série traz um easter-egg bacana para os saudosistas da atração: o pai de Barry é interpretado por John Wesley Shipp, ator que interpretava o próprio Flash no passado. Grant Gustin, que dá vida ao personagem principal na série de 2014, até tem seu carisma e segura bem a atração, embora ainda pareça uma versão teen de um dos heróis mais cascudos da DC. O grande problema da série está em algumas escolhas narrativas que fazem com que seja impossível levar minimamente a sério o que se passa em tela. Os Laboratórios Star serem geridos por uma dupla de adolescentes bobos, por exemplo. Ou ainda o vilão totalmente mal concebido e executado.
O resultado final é de uma série que ainda parece insosa, sem o punch que uma adaptação de um personagem tão famoso deveria ter. Pegue o hype que há em torno da série do Demolidor, produzida pela Marvel e Netflix e divida por 407. É mais ou menos o nível de empolgação que os fãs tinham por essa nova série do Flash. Parece que, apesar de ser dona dos personagens E de um estúdio E de um canal de TV, a Warner insiste em apostar baixo em suas produções envolvendo super-heróis. Ronda na empresa um receio bobo de fazer uma versão “definitiva” de um personagem ganhar vida e ter que conviver com um possível fracasso. O saldo disso é que continuamos tendo, na TV, personagens da DC sem “colhões”. Parece sempre uma versão BETA, algo que ainda vai evoluir, que vai chegar lá. E a paciência e a esperança de que aconteça um Acerto – assim mesmo com A maiúsculo – vai diminuindo estreia após estreia.