O principal ponto para quem mal pode esperar para ver o Quarteto Fantástico – com esperança ou ódio no coração – é saber que esse não é um filme de super-heróis. Josh Trank abraçou a bomba que era dirigir o reboot da equipe e, para o desespero da Fox, conseguiu fazer um filme DELE. Assim como em Poder Sem Limites (2010) – seu primeiro trabalho como diretor – Trank conseguiu contar uma história fantástica, focando nas consequências que o extraordinário causa na vida de pessoas “comuns”. Trata-se de uma tarefa complicada em uma época tão bem servida de filmes que satisfazem as necessidades quase físicas do público nerd. É lindo ver o Hulk esmurrando a Hulk Buster, ou ver uma “briga de bar”, entre Superman e Zod, destruindo Metrópolis. O garoto Trank decidiu fugir disso e trilhar seu próprio caminho, mostrando que tem cojones de sobra para contrariar as vontades de um grande estúdio.
O Quarteto Fantástico não perde tempo tentando vender conceitos científicos, baseados em por** nenhuma.
O foco está na construção dos personagens, com destaque para Reed Richards. Os primeiros minutos de filme são pura nostalgia oitentista, mostrando Richards, ainda criança, construindo uma máquina interdimensional em sua garagem. Isso me remete a época em que os filmes nos faziam acreditar que era possível construir uma nave espacial com pedaços de sucata.
Milles Teller empresta seu carisma a Richards e faz um ótimo gênio/nerd, com direito a corridinhas com os cotovelos colados no corpo. Pessoalmente, eu considero o poder do Dr. Fantástico o mais ridículo de todos nos quadrinhos, então seria uma tarefa impossível alguém fazer eu me importar com um homem elástico, se ele não tivesse sido trabalhado da maneira como foi no longa.
Falando em jovem e gênio…pois então, os personagens principais do filme são jovens e gênios. Pessoas com uma mente brilhante, inseguras e capazes de fazerem merdas homéricas, principalmente quando estão bêbadas. Quem aqui nunca falou para um amigo: segura a minha cerveja enquanto eu viajo para outra dimensão. A eminência do acidente que traz o fantástico para o quarteto, faz você prender a respiração e repetir mentalmente: galera, isso vai dar merda. O resultado é um verdadeiro pesadelo para os envolvidos.
Sim, eu sou um gigante de pedra peladão.
Antes de entender as novas habilidades e sair chamando elas de poderes, o grupo passa pelo inferno. O desespero de Ben/Coisa (Jamie Bell) ao não conseguir entender como seu novo corpo funciona, explode nos olhos daquele monstro de pedra, enquanto ele pede desesperadamente por ajuda.
Kate Mara parece estar a vontade no papel de Sue Storm. Assim como Milles, a atriz está se especializando em fazer o papel de prodígio. Além da jovem reporter em House of Cards, em breve, ela será uma das astronautas em Perdido em Marte, filme de Ridley Scoot que chega aos cinemas no final do ano.
Em um filme sem super-heróis, o super vilão aparece apenas para “responder a chamada”. Victor Von Doom (Toby Kebbell) é, basicamente, um Reed Richards babaca. O lado humano de Dr. Destino é melhor desenvolvido do que o do super vilão, que resolve dar as caras apenas no último ato do filme. Durante boa parte da história, Von Doom trabalha junto com a equipe montada por Dr. Franklin Storm (Reg E. Cathey) para possibilitar a viagem interdimensional. O visual modificado do vilão, que tanto desagradou aos fãs, é justificado e acaba fazendo muito mais sentido do que mais uma armadura tecnológica nos cinemas.
Com tanto espaço dedicado ao desenvolvimento dos personagens, sobra pouco tempo para ação. Aqueles que esperavam ver um Hulk revestido de pedra, lutando ao lado de um cara que pega fogo, uma mulher invisível e um homem-elástico certamente vão se decepcionar. O já tradicional combate final, presente em todos (TOOODOS) os filmes de super-heróis, não dura muito mais do que 5 minutos.
Em meio a brigas com o estúdio, modificações do material original, refações no roteiro e, por consequência, refilmagens, Trank conseguiu bater o pé e entregar um filme original. O preço para isso é o ódio eterno da Fox e dos fãs que, de acordo com as leis da internet, deve durar entre duas semanas ou um ano.