Não dá pra ser hipócrita quando se fala de remakes. O telhado da geração anos 80 é de vidro. King Kong não seria o ícone cultural que é hoje não fosse o remake de 1976. O nosso Scarface “clássico” é o de Al Pacino, do remake de 1983. Robert De Niro teve uma de suas melhores atuações em Cabo do Medo, remake do filme homônimo de 1962. A Mosca, clássico de David Cronemberg é, adivinhem: um remake.
Refilmar clássicos é necessário. Para atualizar a linguagem. Para fazer uma geração se apropriar de um ícone. Para revisitar um conceito interessante de forma mais contemporânea. São muitas as razões. Caça-Fantasmas de 2016 (goste você ou não do filme) é, na acepção da palavra, uma refilmagem. O mesmo conceito do original é usado para contar uma história similar nos dias atuais.
O que soa estranho hoje em dia é a quantidade de remakes (ou reboots, chame como quiser) se aproveitando apenas de um nome e de um visual já conhecido do público para criar algo que vagamente remete ao conceito da obra original. É o caso de Jumanji, com lançamento marcado para 4 de janeiro de 2018.
O trailer foi lançado hoje e traz um conceito bem interessante: jovens encontram um videogame antigo e, ao selecionar os personagens do jogo, são sugados para dentro do aparelho e passam a viver dentro dos corpos de seus avatares, com habilidades especiais, vidas extras (ao que parece) e todas as maluquices que viver dentro de um videogame podem proporcionar.
E quer saber? Faz todo o sentido! A estética videogame conversa com o público atual, o uso de avatares pode render boas piadas (como já visto em A Ressaca) e o carisma de atores como Dwayne “The Rock” Johnson e Jack Black pode segurar um filme assim. O grande problema é que isso não tem absolutamente nada a ver com Jumanji. Nem com o filme de 1995, estralado por Robin Williams, nem com o livro infantil de 1982 escrito e ilustrado por Chris Van Allsburg. Todo o conceito original se baseia em como pessoas normais sobrevivem a um ambiente extremo e, ainda por cima, o que aconteceria se esse ambiente fosse trazido para nosso mundo.Basicamente o mesmo conceito que transformou Uma Noite no Museu em uma franquia de três filmes.
Existiam muitas possibilidades para uma continuação ou reboot, mas o caminho escolhido foi usar o nome Jumanji e emprestá-lo a um outro filme com um conceito que poderia existir pelas próprias pernas. Fica a impressão de que esse era um roteiro que já circulava em hollywood há tempos e o nome foi amalgamado ali para que os investidores tivessem mais segurança na produção.
Eu tinha muitas esperanças de que a volta de Jumanji significasse que, finalmente, eu poderia comprar minha própria versão do jogo de tabuleiro mais perigoso de todos os tempos. Mas aparentemente vou ter que me contentar com mais um jogo estilo 8-bits.