Depois de dois filmes dirigidos por Jon Favreau e de Os Vingadores, comandado por Joss Whedon, Homem de Ferro 3 precisava seguir em um novo rumo para continuar sendo interessante para o público. O escolhido para essa ingrata tarefa foi Shane Black, que não só dirige como também roteiriza essa nova aventura do herói enlatado. E é exatamente isso que Homem de Ferro 3 é: uma aventura. De todos os filmes do herói até agora, esse é o que melhor emula a nostálgica sensação de abrir um gibi aleatório e ler uma história de super-herói depois de voltar da escola. O único porém é que, se você já é mais crescido, será necessário fazer várias concessões ao roteiro e as situações enfrentadas pelo personagem principal, o que não era necessário quando tinha 11 anos de idade.
O longa começa mostrando eventos de 13 anos atrás, quando Tony Stark (Robert Downey Jr.) teve o primeiro contato com a tecnologia Extremis e com Aldrich Killian (Guy Pearce), um cientista que deseja a todo custo se aliar a Stark para desenvolver seus planos. Em seguida voltamos para o presente, mostrando que Tony realmente foi afetado pelos eventos vistos em Os Vingadores. Ele passou de um fanfarrão irresponsável a um obcecado com seu trabalho, que julga essencial para proteger a todos, especialmente sua namorada Pepper Potts (Gwyneth Paltrow). Mas quando os atos do terrorista conhecido como Mandarim (Ben Kingsley) se tornam pessoais, o herói acaba comprando uma perigosa briga. É interessante vermos aqui uma outra faceta do personagem, e como os eventos interligados de todos esses filmes realmente afetam o futuro dos personagens. Stark continua o mesmo piadista de sempre, mas usa isso para disfarçar o peso que recai sobre um homem “normal” em lidar com o extraordinário e o imponderável. Este filme responde, de uma vez por todas, o que faz de Tony Stark um herói, já que qualquer um pode vestir a armadura, mas ninguém consegue ser um Homem de Ferro.
Shane Black opta por tratar o épico de maneira despojada. Todo o clima tenso dos trailers, que chegou a fazer várias pessoas taxarem o filme de “sombrio” não faz jus ao que vemos no cinema. Há tensão, há uma organização terrorista a solta e pessoas morrendo, mas esse é um filme de Tony Stark, acima de tudo. O longa tem momentos que lembram muito os James Bond dos anos 60 e 70, com soluções mirabolantes e cenas de ação improváveis, e isso dita o ritmo do filme muito mais do que seu subtexto antiterrorista. Por sinal, a explicação para que o Homem de Ferro não peça ajuda a seus amigos poderosos é muito pertinente, até mesmo com o momento que os Estados Unidos enfrentam nesse momento. Muitos se perguntam como diabos a nação com o maior poder bélico do planeta demorou tanto a matar Bin Laden, ou então localizar dois irmãos que explodiram pessoas na chegada da Maratona de Boston. A resposta está na cara de todos: o inimigo covarde não abre um portal no meio de Nova York para provocar uma invasão alienígena em larga escala. Ele usa pessoas para provocar pânico. O inimigo está em todos os lugares e não está em lugar nenhum. Ter um grande exército, um Patriota de Ferro ou Os Vingadores a disposição, não adianta de nada quando a única arma eficiente é a inteligência. E isso Tony Stark tem de sobra.
O que havia de positivo nos trabalhos anteriores e que o novo diretor não consegue repetir são as sequências de ação. A épica batalha entre várias armaduras do Homem de Ferro e os vilões, já vislumbrada nos trailers, acaba virando um emaranhado de ferro retorcido em movimento onde não é possível entender o que exatamente acontece. Ao contrário de Os Vingadores, onde a ação era imensa mas totalmente perceptível, aqui fica um pouco difícil acompanhar o que acontece na tela, gerando aquele tão temido “efeito Transformers”. A ação é competente, mas dá para notar que não foi o que motivou Shane Black a assumir o cargo.
Claro que o filme não é perfeito. Existem passagens de tempo estranhas e buracos incontestáveis no roteiro, mas o mérito do longa é justamente imprimir um ritmo tão intenso, que tudo isso acaba passando despercebido. Como disse lá em cima, esse talvez seja o filme mais “quadrinhos” da Marvel até aqui, tanto em ritmo quanto em construção. E para os fãs que acompanham essa grande aventura que é o universo Marvel cinematográfico desde o início, é um passo para um novo patamar nos filmes de heróis. Até aqui todos os elementos fantásticos das hq’s haviam sido inseridos de forma muito criteriosa e cuidadosa, para não assustar os não iniciados. Com Homem de Ferro 3 a Marvel mostra que esse imaginário do impossível está definitivamente assimilado por todos e, agora, o céu é o limite.