Precisamos da equipe de Baby Driver para Armada

A essa altura você já deve ter caído no hype de Baby Driver. O novo filme de Edgard Wright, que até poucos dias exibia invejosos 100% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes. E sim… o filme é tudo isso que estão falando e mais um pouco. Não, ele não é o novo Pulp Fiction e nem chegará com força nas grandes categorias do Oscar em 2018. Baby Driver é um filme jovem (não juvenil… jovem), novo, ágil, ritmado, empolgante, extremamente bem dirigido e magistralmente editado. É uma peça de cultura pop impecável dentro de sua proposta. É o tipo de obra despretensiosa, que surge do nada e cria uma marca onde antes existia o deserto da desinformação. Apesar do hype causado pelas críticas positivas uma obra assim não sofre da esperança e expectativa de fãs ardorosos de adaptações. Mas é pra esse tipo de filme que precisamos de uma equipe como a de Baby Driver. Não a equipe dos assaltos do filme, mas a de realizadores do longa.

IMAGENS_LARGAS_POSTS_armada02

armada_capaDeixa eu falar pra vocês de Armada. Esse é o segundo livro de Ernest Cline. Ainda não ligou o nome a pessoa? Vamos lá: caso você não tenha passado a última semana em Marte, deve ter cruzado com o trailer de Jogador Nº1, divulgado na última San Diego Comic Con. O filme, dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, é a adaptação do primeiro romance de Cline, onde uma geração inteira de jovens corre atrás de uma caça ao tesouro dentro de uma realidade virtual chamada Oasis. A adaptação parece estar incrível, apesar da dificuldade para colocar em tela todas as referências que Cline descreve em suas páginas, que vão do famoso DeLorean de De Volta Para o Futuro ao robô Leopardon da série japonesa do Homem-Aranha. Ernest Cline é uma metralhadora de referências oitentistas, do visual às trilhas sonoras seus livros são o sonho molhado de Hollywood pois causam o tipo de emoção saudosista que Peter Quill despertou em Guardiões da Galáxia ao tocar Come and Get Your Love em seu walkman da Sony. Os realizadores dos anos 2010 nasceram e cresceram nos 80 e isso explica muito a existência de Jogador Nº1, Guardiões da Galáxia, Stranger Things, Baby Driver, Paper Girls e tantos outros produtos atuais com adoração pelo que aconteceu há 30 anos. Diabos… até o novo Homem-Aranha é baseado nos filmes adolescentes dos anos 80. Nossa geração dominou a parada. Chegou nossa vez.

pegue O Último Guerreiro das Estrelas, Star Wars, O Jogo do Exterminador e uma trilha sonora oitentista incrível e você tem Armada.

Dado o contexto, então é hora de voltar a falar de Armada: em seu segundo livro Ernest Cline rouba descaradamente (ele realmente não esconde isso) o ponto de partida de um dos filmes de aventura mais clássicos dos anos 80 – O Último Guerreiro das Estrelas. A trama do livro (e quem conhece o filme citado vai reconhecer a similaridade) gira em torno de Zack, um adolescente em seus últimos dias de ensino médio e que não sabe bem o que fazer com sua vida assim que a escola acabar. Zack idolatra o pai, que faleceu quando ele ainda era um bebê. Os jogos, filmes, músicas e anotações do pai o acompanham em sua monótona vida classe média em uma cidade pequena dos Estados Unidos. O único lugar onde Zack se destaca é em um jogo online chamado Armada, onde ele ocupa um lugar de destaque nos jogadores top 10 do planeta. Nas anotações do pai, Zack encontra uma teoria da conspiração onde, de forma muito embasada, o falecido explica como o governo vem usando videogames para treinar a população mundial contra uma enorme Armada alienígena que pode invadir a Terra a qualquer momento. Nesse momento você deve imaginar que: sim. O pai de Zack estava certo e, como um dos principais pilotos de Drone de Combate do planeta, ele é levado por uma aliança terrestre para proteger o planeta em seu momento de maior risco. A partir daí a história rola em modo frenético com batalhas espaciais, reviravoltas na trama e tudo o mais que você pode imaginar. Resumindo: pegue O Último Guerreiro das Estrelas, Star Wars, O Jogo do Exterminador e uma trilha sonora oitentista incrível e você tem Armada.

IMAGENS_LARGAS_POSTS_armada01

Mas e porque precisamos de Edgard Wright nesse filme? Quem já leu o livro e assistiu Baby Driver sabe do que estou falando. Mas basicamente Wright consegue contar uma história de forma rápida sem parecer apressado. Boa parte desse mérito é também de Jonathan Amos e Paul Machliss, montadores já acostumados ao “estilo Edgard Wright” de edição frenética e ritmada. Armada descreve muitas cenas onde Zack sincroniza os tiros de seus canhões com as bpm das músicas de sua playlist. Se tem alguém capaz de filmar um combate aéreo com inventividade, frescor e explosões ao ritmo de Queen… esse cara é Edgard Wright.

E eu vou mais longe: acho que Ansel Elgort (que já era a única coisa palatável de A Culpa é das Estrelas) daria um ótimo Zack, e o par dele em Baby Driver, Lily James, não se sairia mal como a badass Lex, interesse romântico do protagonista. Aliás Lilly e Lex tem em comum a total falta de profundidade característica das personagens femininas de Ernest Cline e das obras autorais de Edgard Wright (e pra ser justo, de 90% das obras de ficção escritas por homens. Mas isso é assunto para outro texto).

Como literatura Armada não é, nem de longe, tão bom quanto Jogador Nº1. A trama recorre a vários clichês e alguns plot twists são denunciados com quilômetros de antecedência. Mesmo assim, nas mãos certas, a adaptação pode resultar em uma obra audiovisual de apelo incrível. Não vai mudar a história do cinema, mas a Sessão da Tarde de 2025 precisa de material pop de qualidade sendo produzido hoje. Pra que as crianças que ainda nem nasceram possam brincar de guerra espacial ouvindo Queen em seus fones de ouvido.

Vai lá Edgard Wright. Quebra essa pra gente.

Compartilhe
Comente
  • Frank Cossi

    Belo texto, Marton! Mais uma vez você consegue descrever o que, acredito eu, boa parte das pessoas sentiu ao ler os livros. Nunca tinha ouvido falar de Ernest Cline até você começar a citá-lo nos podcasts, até que em um belo dia perambulando pela livraria de um shopping qualquer me deparo com O Jogador Nº1 e penso: será que é tudo isso mesmo? Alerta de SPOILER: é!
    Pra terminar, muito obrigado pela indicação e pelos programas, parabéns!