Há uma semana a HBO cumpriu o prometido e lançou seu serviço de streaming para não assinantes dos pacotes de TV a cabo. Ok, a gente sabe… o lançamento foi uma espécie de “soft opening“, em apenas 4 estados brasileiros (BA, MS, DF e ES) e somente para assinantes do pacote de internet da operadora Oi. Hoje, foi a vez da Amazon e seu serviço de streaming também colocarem os pés oficialmente no Brasil, com o lançamento do Prime Video. Ambas competem agora com a Netflix, que já possui uma base fiel de assinantes no país.
Será o começo do fim para os pacotes tradicionais de TV a cabo?
Antes de tudo, algumas explicações sobre os serviços e suas diferenças básicas.
A Netflix já é nossa velha conhecida. Possui pacotes que custam entre R$19,90 e R$29,90 dependendo do número de telas simultâneas e resolução desejada, acesso nacional e uma tonelada de conteúdo, que varia entre produções próprias e conteúdo licenciado de outras produtoras e estúdios. O pagamento pode ser feito através de cartão de crédito, pay pal, débito em conta (apenas em alguns bancos) e cartões pré-pagos. Também possui um mês de teste para novos usuários. Recentemente adicionou a opção de consumir conteúdo offline, que fica armazenado previamente no dispositivo do usuário. Atualmente o grande trunfo da Netflix são suas produções próprias de grande sucesso como Stranger Things, Narcos, Orange is The New Black, House of Cards e também os frutos de sua parceria com a Marvel nas séries Demolidor, Luke Cage e Jessica Jones.
A HBO Go, além do acesso gratuito para quem já é assinante do pacote de TV, custa R$34,90 por mês e, por enquanto, pode ser contratado apenas para assinantes da banda larga Oi nos quatro estados citados anteriormente. Possui todo o acervo de produções próprias da HBO e um catálogo relativamente limitado de filmes. No comunicado oficial, a empresa afirma que em breve terá o serviço disponível para outros estados brasileiros e também está firmando parcerias com outras operadoras. Não é preciso dizer que o serviço era amplamente aguardado por todos os fãs de Game of Thrones que se recusavam a ter um pacote completo de TV a cabo para poder contratar o canal. Além disso, produções como Westworld, Veep e The Leftovers também devem atrair o público.
A Amazon Prime Video além de novata, é também a opção mais barata: custa apenas 3 dólares nos seis primeiros meses. Considerando a cotação da moeda hoje (14 de dezembro de 2016) o serviço sai por pouco menos de R$10,00 mensais. Após esse período ela passa a custar U$5,99, em torno de R$20,00 por mês. Também possui um período de teste de uma semana para novos usuários do serviço. O pagamento é feito através da conta Amazon com um cartão de crédito vinculado. Ainda não está claro se será possível efetuar o pagamento com gift cards da loja. O serviço também já chega com a opção de consumir conteúdo offline. Atualmente a Amazon está investido agressivamente na produção de conteúdo próprio – como as séries The Man In The High Castle, The Grand Tour e a multipremiada Transparent – e também na compra de conteúdo de outros produtores, como um dos filmes favoritos ao Oscar 2017, Manchester By The Sea. Além disso a Amazon promete que o Prime Video consome menos dados do que outros serviços, graças a seu sistema próprio de compactação. Em tempos de internet com planos de dados regulados esse pode ser um diferencial importante.
Apesar de tudo isso, a grande questão do momento é: será possível cancelar meu plano de TV e permanecer apenas com internet banda larga e serviços de streaming? Então vamos fazer uma pesquisa básica pelas três principais fornecedoras de banda larga do Brasil.
O primeiro grande desafio é encontrar os preços praticados fora dos chamados “combos” no site das empresas. Para a contratação de um plano de 15MB existem promoções, como a da NET, que chegam a dar 85% de desconto durante 3 meses, caso o cliente assine junto o serviço de telefonia fixa e TV. Mas o valor do plano de 15MB sem telefone fixo e sem tv por assinatura fica em R$99,00 mensais. Apesar disso, o valor informado quando a compra do serviço seria finalizada mostra o valor de R$104,90 e uma taxa de adesão de R$240,00 no primeiro mês.
Já na Vivo, que recentemente adquiriu a GVT, a informação fica mais clara, porém o valor um pouco mais alto. A mesma velocidade sai por R$105,90 mensais e há uma taxa de instalação de R$240,00 cobrada na primeira fatura.
No site da Oi é realmente difícil encontrar a opção da contratação da banda larga sem o telefone fixo. Ela fica em uma área totalmente sem destaque, abaixo dos preços dos combos. O valor da internet de 15MB na Oi fica em R$123,90 mensais, além de uma taxa de habilitação de R$160,00 a ser paga na primeira fatura.
Levando todos os valores em consideração (mensalidade + taxas diluídas em 12 meses), a NET tem um custo mensal de R$124,90, a Vivo de R$125,90 e a Oi custaria R$137,20 por mês, todas pelo mesmo plano de 15MB. Para se ter uma ideia, quando se contrata na NET os mesmos 15MB com um plano de TV com 187 canais e telefone fixo, o preço mensal fica em R$159,90. Os planos para que você tenha apenas internet existem, mas todo o produto é desenhado para que não valha a pena contratar apenas aquilo que é necessário.
O que diabos estou fazendo com meu dinheiro?
É justamente por esse tipo de posicionamento das operadoras que muitas críticas foram ouvidas em relação a HBO Go vender seu serviço atrelado à banda larga Oi. Segundo comunicado da empresa, eles “não são uma empresa de tecnologia” (como a Netflix) e preferiram não se pronunciar a respeito das acusações de venda casada.
Existe alguma lógica na HBO abrir mão de toda a burocracia necessária para ser um provedor de conteúdo independente no país. Efetuando parcerias com as operadoras é possível abrir mão de uma série de funções necessárias na cobrança, administração e suporte do serviço, que passam a ser terceirizadas, porém também fica no ar uma dúvida sobre um possível acordo entre cavalheiros. As operadoras de TV a cabo no Brasil tiveram uma queda de 500 mil usuários nos últimos 12 meses (segundo dados da Associação Brasileira de TV por Assinatura), enquanto a Netflix cresceu quase 100% entre setembro de 2015 e outubro de 2016, passando de 3,21 milhões para cerca de 6,08 milhões de usuários. Em 2016 a Netflix já ultrapassou o número de usuários da SKY e a projeção é que, entre o segundo e terceiro trimestre de 2017, ultrapasse também a NET, que tem hoje 7,29 milhões de usuários. A HBO vender seu produto diretamente ao consumidor final poderia significar mais um prego no caixão do modelo atual de TV paga. Independente de ser considerada venda casada ou não, a parceria entre HBO e operadoras certamente não é o melhor para o consumidor, que se verá mais uma vez preso a uma empresa com cláusula de fidelidade e suporte precário.
A Amazon chega ao país com outra postura: a de ser uma concorrente da Netflix e não uma aliada de empresas ancoradas a um modelo antigo de negócios. De olho em parte da gigantesca fatia do mercado que a concorrente vêm desbravando sozinha, o Prime Video chega com preço competitivo e a promessa de pesado investimento na produção de conteúdo exclusivo nos próximos anos. Além disso, mesmo se somando o valor da assinatura Netflix média com o da Amazon Prime Video, o valor é mais baixo do que o da HBO Go. Algo que certamente vai fazer o usuário pensar duas ou três vezes antes de assinar o contrato da Oi.
Os dias em que as empresas decidem a programação da sua TV estão perto do fim. Netflix e Amazon, nascidas no auge do empreendedorismo do Vale do Silício, parecem já ter surgido com o DNA certo para enfrentar esses novos tempos. A HBO, agora pertencente a um grande grupo de telecomunicações americano, parece estar abusando do carinho conquistado nos últimos anos para manter um modelo, já morto, respirando por aparelhos.